RETRATO DO PAPA INOCÊNCIO X TEMÁTICA De todos os retratos realizados por Velásquez, durante sua segunda estada na Itália, este é o mais significativo. A tela está datada de 1650. O modelo é Inocêncio X, o papa defensor da monarquia de Filipe IV. O personagem aparece sentado, enquanto uma grande cortina lhe serve de fundo. O artista empregou a iconografia que a tradição pictórica reserva para as altas dignidades eclesiásticas. Esta imagem possui um traço que torna-a significativa em relação a outras telas de motivo similar. Trata-se da expressão do indivíduo. Uma representação tão solene como esta exigiria imprimir ao personagem um gesto sério e distante. O autor da tela segue este princípio nos numerosos retratos reais que executou. Mas aqui não acontece a mesma coisa. O pintor permite-se uma sutil caracterização psicológica. Da imagem conseguida transcende uma extraordinária força. Sua expressão sinistra e inteligente fez com que o próprio pontífice dissesse que o quadro era "verdadeiro demais". ANÁLISE TÉCNICA E ESTILÍSTICA A composição deste magnífico retrato está presidido pela única e monumental imagem do pontífice. Velásquez retomou os ditados iconográficos que se reservavam para o alto clero. Este costumava ser representado sentado. Era habitual também que o personagem fosse retratado de meio corpo diante de uma grossa cortina, o que era indicativo de seu alto posto. Todos estes convencionalismos eram obrigatórios, a partir da tela realizada por Rafael com a imagem de Júlio II. A imagem de Inocêncio X segue esses padrões de composição que a tradição exigia. Do ponto de vista formal, sua monumentalidade é mais acentuada do que o habitual. O artista não representa o indivíduo de meio corpo, mas sim opta por pintá-lo sentado, a três quartos. A luz incide diagonalmente sobre a figura, matizando a qualidade tonal da roupa e das feições do homem. Nesta tela não resta nada daquela pincelada escultórica inicial. O traçado se faz mais suave. O contraste cromático que sobressai da brancura e do vermelho das vestes do personagem vem acentuar a força expressiva da qual faz gala esta poderosa figura. INTERPRETAÇÃO A imagem deste pontífice é considerada pela historiografia artísitca como um dos momentos auges e fundamentais da trajetória velasquenha e da pintura européia. Esta qualificação não se deve exclusivamente à qualidade técnica da obra. O motivo fundamental se encontra na aguda captação psicológica que o artista logrou. A expressão terrível do personagem parece transcender da própria tela para o espectador. Seu autor supera a fronteira da solenidade e suprime a distância entre este poderoso e quem o contempla. A obra causou grande impacto na época. Não só no próprio modelo, como também na crítica da época. Sua repercussão foi tal, que chegou a ser objeto de numerosas cópias. Muitas foram erroneamente atribuídas a Velásquez. A crítica considerou sua outra tela sobre o mesmo motivo, que se conserva em Washington. Poderia se tratar de um estudo preparatório. Das reinterpretações existentes ao longo da evolução pictórica européia, destacam-se a de Reynolds e a de Francis Bacon.